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sexta-feira, 11 de julho de 2025

1 – Aula Inaugural do Curso de Psicologia Clínico-Pastoral

Introdução à Psicologia Clínica

Neste módulo introdutório, abordamos os fundamentos da psicologia clínica a partir de uma perspectiva clínico-pastoral. Serão discutidas:

  • As origens da psicologia clínica e sua evolução.
  • A relação entre saúde mental e espiritualidade.
  • A escuta clínica como ato terapêutico e compassivo.
  • O papel da presença pastoral como recurso terapêutico.


1 – Aula Inaugural do Curso de Psicologia Clínico-Pastoral

Graça, paz e bondade do Senhor Jesus.

É com o coração cheio de alegria e responsabilidade que dou início a esta caminhada formativa no campo da Psicologia Clínico-Pastoral. Estamos juntos no projeto dos Teólogos de Fronteira, um espaço de escuta, acolhimento e formação para homens e mulheres vocacionados ao cuidado da alma ferida. Este curso nasceu do encontro entre a vocação espiritual e a formação teórica, entre o chamado de Deus e as ciências humanas, entre a pastoral e a clínica.

1. A Vocação e a Formação

A vocação é dom de Deus. A formação, no entanto, é nossa responsabilidade. Como ensinou o apóstolo Paulo: “E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros” (2Tm 2.2).

Eu mesmo trilhei essa trajetória. Sentei-me para aprender antes de levantar-me para ensinar. Formei-me em Psicologia Clínica pela Universidade Anhanguera, caminhei pela Filosofia, Psicopedagogia, Neuropsicopedagogia, e também pela Teologia. Tudo isso me capacitou para transformar conhecimento acadêmico em instrumento de serviço cristão. Como Paulo afirmou, “levamos cativo todo entendimento à obediência de Cristo” (2Co 10.5).

2. Psicologia Clínica: Origens e Desenvolvimento

A Psicologia Clínica nasceu no final do século XIX, com Lightner Witmer, que propôs uma psicologia aplicada à avaliação e tratamento de crianças com dificuldades escolares. Mas seu solo profundo está na Filosofia, que desde os tempos antigos se debruça sobre a natureza da alma (psique). Platão falava da alma como o centro das ideias eternas, Aristóteles a via como princípio vital do corpo, e Santo Agostinho já a relacionava com a interioridade e com Deus.

Hoje a psicologia clínica estuda a mente e o comportamento, mas sempre com um objeto imaterial, subjetivo, muitas vezes inefável. Como disse Carl Jung:

“Conhecer a sua própria escuridão é o melhor método para lidar com a escuridão dos outros”.

3. Psicologia Pastoral: A Alma no Centro

Na abordagem clínico-pastoral, eu insisto: a alma do outro está acima do dogma. Nosso papel é o de pastorear feridos, e não impor fardos sobre os que já estão em dor. Jesus mesmo nos ensinou isso quando disse:

“O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Mc 2.27).

Aqui está a diferença entre o psicólogo secular e o clínico-pastoral: nós não negociamos os valores do Evangelho, mas aprendemos a colocar o ser humano acima das estruturas religiosas, para poder curar suas feridas com óleo e vinho, como fez o bom samaritano.

4. Integração entre Psicologia e Teologia

A psicologia pastoral não é uma psicologia “pura”. Ela dialoga. Ela se assenta à mesa com a psicanálise, com a fenomenologia, com a pedagogia e, sobretudo, com a Teologia. Por isso, estruturamos este curso com base em quatro grandes pilares:

  • Psicanálise: escuta do inconsciente, pulsões e simbolismos. Como disse Freud, “o eu não é senhor em sua própria casa”, e por isso precisamos escutar mais do que julgar.
  • Humanismo Cristão: valorização do sujeito acima da doutrina. Martinho Lutero, João Calvino e outros reformadores foram humanistas teocêntricos — colocaram o Evangelho a serviço da liberdade humana.
  • Terapia Cognitivo-Comportamental: reestruturação de padrões de pensamento. Tiago escreveu: “sede praticantes da Palavra e não apenas ouvintes” (Tg 1.22). Essa é a base de toda intervenção eficaz: aliar pensamento e comportamento.
  • Fenomenologia e Existencialismo Cristão: compreender a dor como fenômeno real e o sofrimento como linguagem do ser. Como disse Viktor Frankl:

“Quem tem um porquê para viver, suporta quase qualquer como”.

 

5. As Tradições da Igreja: Patrística, Padres do Deserto e Direção Espiritual

O cuidado pastoral não começou com a modernidade. Ele vem de longe. Na tradição cristã, encontramos os Padres do Deserto, místicos que buscaram o silêncio para ouvir a alma. A “Filocalia”, por exemplo, é um tesouro espiritual que inspira nossa clínica até hoje.

Também aprendemos com os pais da Igreja, com os místicos, os reformadores, os puritanos e os pentecostais — todos eles deixaram lições sobre cura interior, oração intercessora e direção espiritual.

6. O Suicídio e a Dor da Alma

Durante as aulas, alguém me perguntou sobre os irmãos que tiram a própria vida. Eu disse: esse é um tema que exige compaixão, escuta e maturidade pastoral. A dor que leva alguém ao suicídio é tão profunda que muitas vezes escapa ao julgamento teológico.

Como afirmou o pastor Eugene Peterson:

“O trabalho pastoral começa quando não há mais respostas, apenas presença”.

7. Conclusão: Uma Formação para Servir

Você está aqui não para se tornar um “curandeiro da fé”, mas para ser um pastor de almas. Esse curso é uma ponte entre a Psicologia e o Evangelho, entre a Ciência e a Graça, entre o sofrimento humano e a presença de Cristo.

Queremos que você saia deste curso capaz de aconselhar, encaminhar, acompanhar e amar as pessoas onde elas estão, como elas estão.

“A alma que sofre não precisa de regras, precisa de repouso.”
(Rogério de Sousa)

Questionário – Aula Inaugural de Psicologia Clínico-Pastoral

1. Segundo a abordagem clínico-pastoral apresentada no texto, qual é a postura correta diante de uma pessoa em sofrimento emocional e espiritual?

A) Repreender com base nas doutrinas da igreja para restaurar a obediência.
B) Priorizar os dogmas da fé sobre as necessidades subjetivas do indivíduo.
C) Corrigir o comportamento do paciente conforme os princípios ortodoxos.
D) Valorizar a escuta compassiva, a subjetividade e a dignidade do ser humano.
E) Direcionar a pessoa exclusivamente à leitura bíblica e à oração para cura.

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