Introdução à Psicologia Clínica
Neste módulo introdutório, abordamos os fundamentos da psicologia clínica
a partir de uma perspectiva clínico-pastoral. Serão discutidas:
- As origens
da psicologia clínica e sua evolução.
- A relação
entre saúde mental e espiritualidade.
- A escuta
clínica como ato terapêutico e compassivo.
- O papel da
presença pastoral como recurso terapêutico.
1 – Aula Inaugural do Curso de Psicologia Clínico-Pastoral
Graça, paz e bondade do Senhor
Jesus.
É com o coração cheio de alegria
e responsabilidade que dou início a esta caminhada formativa no campo da Psicologia
Clínico-Pastoral. Estamos juntos no projeto dos Teólogos de Fronteira,
um espaço de escuta, acolhimento e formação para homens e mulheres vocacionados
ao cuidado da alma ferida. Este curso nasceu do encontro entre a vocação
espiritual e a formação teórica, entre o chamado de Deus e as
ciências humanas, entre a pastoral e a clínica.
1. A Vocação e a Formação
A vocação é dom de Deus. A
formação, no entanto, é nossa responsabilidade. Como ensinou o apóstolo Paulo: “E
o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que
sejam idôneos para também ensinarem os outros” (2Tm 2.2).
Eu mesmo trilhei essa trajetória.
Sentei-me para aprender antes de levantar-me para ensinar. Formei-me em
Psicologia Clínica pela Universidade Anhanguera, caminhei pela Filosofia,
Psicopedagogia, Neuropsicopedagogia, e também pela Teologia. Tudo isso me
capacitou para transformar conhecimento acadêmico em instrumento de serviço
cristão. Como Paulo afirmou, “levamos cativo todo entendimento à obediência
de Cristo” (2Co 10.5).
2. Psicologia Clínica: Origens
e Desenvolvimento
A Psicologia Clínica nasceu no
final do século XIX, com Lightner Witmer, que propôs uma psicologia aplicada à
avaliação e tratamento de crianças com dificuldades escolares. Mas seu solo
profundo está na Filosofia, que desde os tempos antigos se debruça sobre a
natureza da alma (psique). Platão falava da alma como o centro das ideias
eternas, Aristóteles a via como princípio vital do corpo, e Santo Agostinho já
a relacionava com a interioridade e com Deus.
Hoje a psicologia clínica estuda
a mente e o comportamento, mas sempre com um objeto imaterial, subjetivo,
muitas vezes inefável. Como disse Carl Jung:
“Conhecer a sua própria escuridão
é o melhor método para lidar com a escuridão dos outros”.
3. Psicologia Pastoral: A Alma
no Centro
Na abordagem clínico-pastoral,
eu insisto: a alma do outro está acima do dogma. Nosso papel é o de pastorear
feridos, e não impor fardos sobre os que já estão em dor. Jesus mesmo nos
ensinou isso quando disse:
“O sábado foi feito por causa do
homem, e não o homem por causa do sábado” (Mc 2.27).
Aqui está a diferença entre o
psicólogo secular e o clínico-pastoral: nós não negociamos os valores do
Evangelho, mas aprendemos a colocar o ser humano acima das estruturas
religiosas, para poder curar suas feridas com óleo e vinho, como fez
o bom samaritano.
4. Integração entre Psicologia
e Teologia
A psicologia pastoral não é uma
psicologia “pura”. Ela dialoga. Ela se assenta à mesa com a psicanálise, com a
fenomenologia, com a pedagogia e, sobretudo, com a Teologia. Por isso,
estruturamos este curso com base em quatro grandes pilares:
- Psicanálise: escuta do inconsciente, pulsões
e simbolismos. Como disse Freud, “o eu não é senhor em sua própria
casa”, e por isso precisamos escutar mais do que julgar.
- Humanismo Cristão: valorização do sujeito
acima da doutrina. Martinho Lutero, João Calvino e outros reformadores
foram humanistas teocêntricos — colocaram o Evangelho a serviço da
liberdade humana.
- Terapia Cognitivo-Comportamental:
reestruturação de padrões de pensamento. Tiago escreveu: “sede
praticantes da Palavra e não apenas ouvintes” (Tg 1.22). Essa é a base
de toda intervenção eficaz: aliar pensamento e comportamento.
- Fenomenologia e Existencialismo Cristão:
compreender a dor como fenômeno real e o sofrimento como linguagem do ser.
Como disse Viktor Frankl:
“Quem tem um porquê para viver,
suporta quase qualquer como”.
5. As Tradições da Igreja:
Patrística, Padres do Deserto e Direção Espiritual
O cuidado pastoral não começou
com a modernidade. Ele vem de longe. Na tradição cristã, encontramos os Padres
do Deserto, místicos que buscaram o silêncio para ouvir a alma. A
“Filocalia”, por exemplo, é um tesouro espiritual que inspira nossa clínica até
hoje.
Também aprendemos com os pais
da Igreja, com os místicos, os reformadores, os puritanos e os pentecostais
— todos eles deixaram lições sobre cura interior, oração intercessora
e direção espiritual.
6. O Suicídio e a Dor da Alma
Durante as aulas, alguém me
perguntou sobre os irmãos que tiram a própria vida. Eu disse: esse é um tema
que exige compaixão, escuta e maturidade pastoral. A dor que leva alguém
ao suicídio é tão profunda que muitas vezes escapa ao julgamento teológico.
Como afirmou o pastor Eugene
Peterson:
“O trabalho pastoral começa
quando não há mais respostas, apenas presença”.
7. Conclusão: Uma Formação
para Servir
Você está aqui não para se tornar
um “curandeiro da fé”, mas para ser um pastor de almas. Esse curso é uma
ponte entre a Psicologia e o Evangelho, entre a Ciência e a Graça, entre o
sofrimento humano e a presença de Cristo.
Queremos que você saia deste
curso capaz de aconselhar, encaminhar, acompanhar e amar as pessoas onde
elas estão, como elas estão.
“A alma que sofre não precisa de
regras, precisa de repouso.”
(Rogério de Sousa)
Questionário – Aula Inaugural
de Psicologia Clínico-Pastoral
1. Segundo a abordagem
clínico-pastoral apresentada no texto, qual é a postura correta diante de uma
pessoa em sofrimento emocional e espiritual?
B) Priorizar os dogmas da fé sobre as necessidades subjetivas do indivíduo.
C) Corrigir o comportamento do paciente conforme os princípios ortodoxos.
D) Valorizar a escuta compassiva, a subjetividade e a dignidade do ser humano.
E) Direcionar a pessoa exclusivamente à leitura bíblica e à oração para cura.
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